Reflexão

É impressionante a quantidade de decisões que não têm relação com o número de autores, gênero ou com o caso apresentado no processo.
Certo dia recebi a decisão em um pedido liminar, onde pretendia obter o prontuário médico de um paciente, e minha surpresa foi tamanha ao perceber que o Juiz se referia a um caso em que ocorreu a morte do paciente. Por óbvio, fiquei perplexa já que meu cliente, paciente da clínica ré, ainda estava vivo.
Ficou evidente que o Juiz copiou e colou outra decisão no meu processo e, além de não se dar ao trabalho de lê-la, fez com que o recurso para correção do erro atrasasse ainda mais o processo que já se arrastava por meses, aguardando uma única decisão.
Refletindo sobre o assunto e o consequente engessamento do Poder Judiciário, deparei-me com um poema de autoria do Ministro do STJ Humberto Gomes de Barros , publicado em artigo do site do Tribunal, que demonstra claramente a massificação dos processos e a forma industrial como eles são analisados.


QUATORZE DE AGOSTO:

Votos iguais
Recursos inúteis
Da monotonia
O tédio profundo
Faz com que a turma
Se alheie do mundo

Quinhentos processos
Passaram por nós
Que os deglutimos
Sem dó e sem pena
Com a indiferença
De férrea moenda

O STJ
Tão bem concebido
Sucumbe à sina
De se transformar
Em reles usina

E cada ministro
Perdendo o valor
Torna-se um chip
De computador

Quatorze de agosto
Oh, quanto desgosto

Fazemos agora
Bem desatentos
a sessão mais aborrecida
E mais enervante
De todos os tempos



Bom seria se todos os operadores do direito tivessem a coragem de expor seu descontentamento com o sistema no qual estão inseridos e batalhassem por efetivas mudanças.

Texto relacionado:STJ alcança 2 milhões de julgados desde sua criação